Pedal Verde Brasil

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Original Trip Adventure

domingo, 24 de março de 2013

Pedal da Lua Cheia – Passeio


Nesta quarta-feira, 27, terá mais um Pedal da Lua Cheia até o morro do Espigão do Norte. A saída é na Praça Ângelo Darolt, centro de Medianeira às 18h30. Todos estão convidados!
Convide sua esposa, filho e venha fazer os 12 km até o Morro em um passeio alucinante.
É importante que todos os participantes usem capacete e tenham uma lanterna em sua bike para segurança, e claro uma boa revisada da magrela.
Obs: levar a quantia simbólica de R$ 2,00 (dois reais) (se possível) para contribuir com o proprietário do Morro, senhor Zé.

Volta da pedreira de Matelândia via Javali



Sabadão a tarde é dia de pedal, como de costume a galera esperou as 14h30 na praça Ângelo Darolt, centro de Medianeira. No mesmo local, encontramos a galera sangue bom dos Amigos do Pedal que tinham programado uma trilha em direção a Aurora do Iguaçu.
Como nós já “afundamos” aquele local de tanto passar resolvemos fazer a Volta da Pedreira de Matelândia. Todos apostos, Black, Fernando, Negri, Linconh, Silvio e Thiago, positivo e operante seguimos em direção ao bairro Belo Horizonte.

Pegamos a trilha em meio à lavoura em direção a Comunidade de São Braz, depois de passar por alguns quilômetros deste local tivemos a primeira surpresa da tarde com o pneu furado da bike do Black.
Consertado, é hora de seguir. Mas que nada, o pneu da bike do Negri também furado... Tudo certo seguimos passando na Comunidade da Linha Javali até chegar na BR 277, onde atravessamos a rodovia e entramos na pedreira.
Umas subidas alucinantes até chegar ao topo, e depois cai, e como desce. Neste ritmo prosseguimos até o Negri furar outro pneu, paramos e o auxiliamos. Vamos seguir que nada, definitivamente não era o dia do Negri, o pneu continuava furado rssss. Retirado, remendado e boa tarde Brasil, ficou boa a magrela. Tocamos o barco mais um pouco até chegar em uma subida muito forte com pedras soltas, em certos momentos tinha que empurrar as bikes pois não tinha condições... Finalmente chegamos ao topo, mas faltava mais um biker, quem era? O Negri, desta vez estourou a corrente. Aguardamos por algum tempo até ele consertar e subir o peral, neste momento já se escutava alguns barulhos de trovão, anunciando que viria chuva por ai.
Seguimos até próximo ao Morro da Salete, onde se concretizou a ducha. Pegamos então o calçamento em direção ao bairro Nazaré, ficando um pouco para trás o Silvio, Thiago e o Fernando.
Em certo momento nosso colega Fernando se descuidou em uma curva no liso calçamento poliédrico e acabou caindo. Eu (Thiago) que vinha logo atrás dele abandonei minha bike e corri socorre-lo. Infelizmente com a queda ele acabou batendo o joelho causando algumas escoriações. Como a distância eu observei que vinha um veículo, tentei retirar o colega da pista e acomoda-lo no acostamento para providenciar um socorro, neste momento chegou o Silvio também que retirou a bike do Fernando da pista.
Por muita sorte o veículo que eu observava a distância parou e três mulheres muito, mas muito educadas se prontificaram em auxiliar, dando carona para o Fernando até o hospital. Eu e o Silvio aliviados, prosseguimos levando uma bike amais revezando durante os oito quilômetros finais.
Neste domingão fui até a casa do Fernando para saber como ele estava, por sorte não houve um dano maior, apenas três pontos no joelho mais algumas pancadinhas, nada que uns vinte dias de molho não volte a pedalar. E este foi o pedal de sabadão, com muitas subidas, descidas, sol, chuva, pneu furado, corrente estourada, emoção e muito companheirismo. Afinal, é Pedal Verde Brasil.
Boa recuperação Fernando, estamos no seu aguardo para o retorno no pedal.

Thiago Reginato

Nelson de volta ao Brasil após quase oito meses

A madrugada no acampamento indígena foi sem dúvida uma das piores da viagem. Isso porque os jovens moradores da comunidade passaram a noite toda bebendo ao lado do quiosque onde eu estava. Fui conseguir cochilar somente por volta das 4 horas. Antes desse período fiquei o tempo todo atento a qualquer movimento estranho.
Acordado no interior da barraca eu escutava, involuntariamente, a conversa quase sem sentido daquelas pessoas que se embriagavam. A todo instante era possível ouvir uma nova lata de cerveja sendo aberta. Mais lamentável do que isso foi ouvir uma “amiga” dizendo à outra; não quer aprender a fumar? A frase me fez refletir sobre as verdadeiras amizades. Acredito que um amigo que deseja seu bem jamais apontaria um caminho deste tipo. A outra pessoa, um pouco mais sensata, respondeu; nunca!
Também conseguia identificar que em determinados momentos alguém solicitava para diminuir o volume da música porque tinha um gringo “dormindo” na barraca. Mas a advertência era ignorada e a festa continuava sem nenhum respeito pelas outras pessoas. Comecei a pensar que certamente eu não era o único a ter dificuldades para dormir, afinal, havia outras casas ao redor do quiosque, contudo, ninguém se manifestou contrário àquele barulho inconveniente.
Após cochilar quase duas horas, acordei naturalmente por volta das 6 horas da manhã. Para a minha surpresa, os baderneiros ainda continuavam bebendo do outro lado da rodovia. É realmente lamentável saber que a droga do álcool está presente em todos os lugares, até mesmo aqueles mais remotos.
Desmontei acampamento rapidamente, degustei meu simples desayuno e às 7 horas estava preparado para começar a pedalar. Gostaria de registrar a parte externa do quiosque, mas com aquelas pessoas do lado de fora achei melhor fotografar apenas o interior do local. Vale a pena destacar que, de modo geral, os indígenas são amistosos e não negam ajuda, contudo, tive a infelicidade de ter estar no lugar errado. 
 
A notícia boa em meio a toda essa situação é que eu estava prestes a começar o último dia de pedal na Venezuela, afinal, Santa Elena de Uairén estava a menos de 50 quilômetros de Mapure. Desta vez dificilmente eu não atravessaria a fronteira para retornar ao meu país.
O dia amanheceu bonito e o sol mais uma vez brilhava forte. O caminho estava aberto para que meu avanço final em território estrangeiro fosse concluído. Mas, para variar, havia uma última série de subidas íngremes. Elas apareceram após a passagem pela Quebrada de Jaspe, que por sua vez, está somente há quatro quilômetros de Mapure. 
  
A beleza da savana durante a subida.
  
Mais uma vez em direção aos céus. Aclive após a Quebrada de Jaspe.
Os aclives após Jaspe não me pegaram de surpresa. Ontem, logo quando cheguei na comunidade indígena onde passei a noite acordado, um senhor me avisou sobre as subidas da região, contudo, também mencionou que na sequencia tinha um bom trecho de montanha abaixo e que posteriormente o trajeto continuava plano até Santa Elena. E realmente as informações se mostraram verdadeiras.
A subida após a Quebrada de Jaspe foi uma das mais íngremes que enfrentei na Gran Sabana. A inclinação muitas vezes fez o velocímetro marcar apenas 4 km/h durante o aclive desgastante. Minha transpiração excessiva era parecida com aquela de quem corre debaixo do sol do meio dia em pleno verão.Tenso!
No topo da montanha o visual foi espetacular. Ainda restavam mais alguns quilômetros em solo venezuelano, mas aquele momento serviu como despedida, afinal, a expedição no exterior foi predominantemente nas alturas. Foram cinco meses somente na Cordilheira dos Andes, ou seja, conquistar aquela ascensão e observar toda a grandeza da Grande Savana foi um momento especial e quase indescritível.

Paisagem no topo da montanha. Momento de contemplação.
 
Enquanto registrava a beleza da savana do alto da montanha, pude observar a chegada de dois ciclistas ao topo. Cumprimentaram-me rapidamente e seguiram com o treinamento em um ritmo forte. Eu continuei meu caminho em direção à Santa Elena. Desta vez a descida generosa era um bônus pela conclusão do esforço anterior. Como é bom sentir o vento na cara e a incomparável sensação de liberdade. 
 
Após a descida o relevo se apresentou plano, uma raridade na savana. Aproveitei para empregar um ritmo mais forte já que os fatores climáticos ainda estavam tímidos e se não me ajudavam muito, pelo menos não atrapalhavam. Seguia tranquilamente quando aqueles dois ciclistas passaram a me acompanhar. Claro que diminuíram a velocidade para manterem uma rápida conversa. Fiquei surpreso ao saber que eram de Santa Elena e que a cidade, apesar de pequena, tem vários adeptos do esporte. Antes de seguirem para a conclusão do treino, eles confirmaram que eu encontraria leves inclinações somente um pouco antes de chegar ao município em questão.
 
A descida e a parte plana no horizonte. 
 
Comunidades indígenas
O trajeto plano se manteve praticamente até a cidade de Santa Elena de Uairén, algumas subidas realmente surgiram, mas foi tranquilo completa-las. Com 47 quilômetros pedalados eu estava onde desejava e que já era visualizada no horizonte. Várias placas desejam boas vindas ao último município venezuelano antes da fronteira com o Brasil.
 
Chegada à Santa Elena de Uairén. 
 
Santa Elena de Uairén
O perímetro urbano de Santa Elena de Uairén não demorou a aparecer e continuei por ele vários quilômetros. A cidade é pequena, mas é muito maior e agradável do que eu imaginava. Não cheguei a pedalar pela região central, no entanto, encontrei tudo que um viajante, eventualmente, pode precisar, ou seja, o local pode facilmente servir como um ponto de apoio. Como eu não necessitava de nada, apenas segui a orientação das placas em direção à fronteira.
 
Perimetro urbano de Santa Elena de Uairén. 
Os ciclistas que encontrei na estrada afirmaram que eu não precisava pagar nenhuma taxa para deixar o país, mas ainda assim eu continuei com os 100 bolívares na carteira, caso a utilização não fosse necessária eu trocaria em Pacaraima, já no lado brasileiro, onde me disseram que também realizavam o câmbio das moedas.
Santa Elena estava bastante movimentada, sobretudo, com a presença de brasileiros que se deslocam ao local para realizarem compras e abastecerem os veículos, a maioria destes era de Boa Vista ou Manaus, sinal que a economia deve realmente valer a pena. Vale destacar que muitos comerciantes brasileiros têm estabelecimentos na cidade. Facilmente encontram-se fachadas em português ou com a bandeira do Brasil.
Na saída da cidade, debaixo de um sol escaldante, quase ao meio-dia, fui abordado por um vendedor de sorvete que caminhava com seu carrinho na busca por clientes. Ele perguntou se eu queria um helado, mas instantaneamente mencionei que estava sem dinheiro, contudo, ele replicou dizendo que estava me presenteando e que eu poderia pegar qualquer um do carrinho que teve sua tampa aberta para a minha escolha. Fiquei realmente surpreso com a atitude e sem pensar duas vezes peguei um picolé sem importar com marca ou sabor. Agradeci o vendedor que ainda me parabenizou e desejou boa viagem. A hospitalidade e generosidade do povo venezuelano me acompanharam até o final da minha estadia no país. Muchas gracias, hermanos.
A minha planilha indicava que de Santa Elena até a fronteira ainda restavam 13 quilômetros, todavia, eu não tinha conhecimento de qual ponto da cidade o Google Maps se baseava. E certamente não foi do início do perímetro urbano, pois a distância em questão foi um pouco maior e somente quase 20 quilômetros depois apareceu a aduana venezuelana.
A imigração do lado venezuelano estava fechada para o almoço e abriria somente às 14 horas, ou seja, eu deveria esperar 1h30m para registrar a minha saída do país, garantir mais um carimbo no passaporte e finalmente voltar ao Brasil. Durante esse tempo de espera observava o movimento de veículos no local. Os brasileiros que somente se dirigem à Santa Elena não precisam apresentar nenhum documento, seja pessoal ou do veículo, e por isso entravam e saiam do país sem maiores dificuldades. A polícia apenas realizava uma rápida vistoria no porta-malas e liberava a passagem.
 
Registro garantido na aduana venezuelana. 
Na imigração conversei com algumas pessoas que ficavam curiosas ao ver a bicicleta carregada e também troquei algumas palavras com um simpático casal brasileiro que informou a existência de uma agência do meu banco em Pacaraima. Com a notícia eu não precisava trocar de imediato os vinte dólares restantes, necessitava apenas cambiar a moeda venezuelana que realmente sobrou já que nenhuma taxa foi cobrada para receber a autorização de deixar o país legalmente.
Devidamente pronto para sair da Venezuela, passei pela polícia que não realizou nenhuma vistoria na bagagem. Completava minha passagem pelo exterior sem ter nenhum problema nas fronteiras, seja com a documentação ou revista nos alforjes. Maravilha! A visita à Venezuela foi a que teve maior duração, foram 62 dias, 2.275 km pedalados e 2.220 reais gastos. Metade desse dinheiro foi embora durante os 17 dias em que precisei, obrigatoriamente, conviver com a exploração da cotação oficial.
Não precisei pedalar muito e rapidamente cheguei à divisa entre os dois países, onde a bandeira da Venezuela e Brasil tremulavam à beira da estrada. Muitas pessoas registravam a passagem pelo local e eu não deixei de fazer o mesmo. Fiquei apenas surpreso com o número de pessoas que vieram tirar foto comigo na presença da Victoria. Parecíamos celebridades. (Risada sacana).
 
Finalmente de volta ao Brasil.
Após 236 dias e 11,897 km pedalados no exterior, passando por Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, finalmente eu estava de volta ao meu país. A emoção de retornar ao Brasil é simplesmente indescritível. A felicidade sem dúvida estampava meu semblante. Regressar ao território nacional significava que a parte mais difícil da viagem estava concluida.
Quem acompanha o diário de bordo sabe todas as dificuldades que apareceram pelo caminho, mas que foram superadas com muita determinação, paciência e apoio incondicional da família, amigos, conhecidos e desconhecidos das mais diversas regiões do Brasil e também do exterior. Sem dúvida essa ajuda fez muita diferença para que a Victoria e eu chegássemos até aqui. Por isso, aproveito a oportunidade para agradecer de coração a todos vocês que me incentivaram, das mais variadas formas, ao longo destes oito meses de viagem. Muito obrigado.
Na aduana brasileira eu perguntei se precisava registrar meu retorno ao país, isto porque eu ganhei um carimbo brasileiro no passaporte quando deixei o Brasil para entrar na Bolívia. Mas me informaram que não seria necessário e então continuei o pedal em direção à Pacaraima que fica a poucos metros da fronteira.
A cidade de Pacaraima é pequena, mas tem de quase tudo, agências bancárias (Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, entre outras), restaurantes, padarias, hospedagens e um significativo comércio. Em um primeiro momento procurei um lugar para trocar a moeda venezuelana que ainda estava comigo. Achei uma pequena loja onde o proprietário realizava o câmbio. Cem bolívares renderam quase dez reais. No local aproveitei para colocar créditos no meu celular que voltou a funcionar depois de meses sem sinal. Na sequencia fui procurar a pousada econômica que tinham me recomendado.
Pacaraima tem uma avenida principal pela qual continuei até o final, onde, à esquerda, estava uma pousada simples e talvez  a mais econômica da cidade. O atendimento no estabelecimento foi exemplar e a diária saiu por 20 reais, para o padrão Brasil, estava barata. O quarto era pequeno, mas com banheiro decente e ventilador, mais do que suficiente para meu descanso. 
A tendência aqui no Brasil é que os gastos sejam ainda mais elevados, sobretudo, com hospedagem e alimentação. Por isso, mais do que nunca, precisarei de colaborações para manter a viagem até a volta para Foz do Iguaçu/PR. As doações continuam sendo recebidas através da vakinha online (veja aqui!) ou por meio de depósito em conta corrente (veja aqui!). Não importa se você puder contribuir com 5,10,20 ou 100 reais. O que se faz ncessário neste momento é a ajuda de qualquer valor para garantir os gastos básicos nos próximos meses. Agradeço pela compreensão.
A parada naquele momento (por volta das 14 horas) era estratégica porque entre Pacaraima e Boa Vista são mais de 200 quilômetros e no caminho não existe nenhuma cidade. E eu precisava repor meu estoque de comida, mandar notícias à família e amigos e matar a saudade da comida brasileira. Por isso, logo após tomar um belo banho que, diga-se de passagem, estava atrasado, fui a um restaurante nordestino quase ao lado da hospedagem para almoçar. Mais uma vez o atendimento foi digno de quem realmente sabe tratar com respeito as pessoas. A refeição estava divina, caprichada e com o típico sabor brasileiro, custou oito reais. Bom demais estar de volta ao país.
Antes de voltar à pousada passei em uma lan house para conferir o e-mail e na sequencia em um supermercado para garantir o energético da viagem; bolacha recheada. Como é estranho ver uma quantidade enorme de opções na prateleira. No exterior esse alimento é bastante limitado e por vezes difícil de encontrar. Não hesitei em comprar o mais barato, que, por sua vez, mostrou-se bastante saboroso.
De volta à pousada eu estava preparado para descansar, não sem antes refletir sobre o momento. Sempre gostei e valorizei o meu país, mas agora passo a valorizar ainda mais. Claro que ainda temos muito que melhorar, contudo, sem dúvida me sinto privilegiado por nascer e viver no Brasil. Quem tece criticas negativas ao país geralmente são aqueles que não fazem nada para melhora-lo e não conhecem a realidade dos outros lugares. Enfim, estou muito feliz por estar de volta.
Dia finalizado com 68,30 km em 5h25m e velocidade média de 12,57 km/h.
17/03/2013 - 252° dia - Pacaraima a Três Corações
Pedalando pela primeira vez no norte do país.
Acordei por volta das 6 horas da manhã, preparei meu desayuno, desculpa, meu café da manhã, arrumei minhas coisas e antes de voltar para a estrada liguei para a minha mãe informando sobre o meu retorno ao país. Na sequencia fui pedalar em território nacional depois de muito tempo.
 
Avenida principal da pequena Pacaraima. 
Eu tinha conhecimento que a BR 174, estrada que faz a ligação Paracaima x Boa Vista não estava em boas condições, com muitos buracos e sem acostamento, mas ainda assim pensei que seria possível chegar na capital em apenas um dia já que o relevo, sobretudo, após Paracaima, favorecia um deslocamento mais rápido, mas nem tudo foi conforme o planejado.
Nos primeiros quilômetros após Pacaraima uma placa informa a existência de buracos nos próximos 90 quilômetros. Paciência! O declive que eu esperava realmente apareceu, mas com a presença dos buracos e remendos na pista não foi possível descer sem frear praticamente o tempo inteiro. Em contrapartida a descida mais lenta favoreceu a observação da fauna e flora de uma extensa área que pertence, por lei, aos indígenas, como lembram as placas pelo caminho.
 
A placa mais frequente em quarenta quilômetros. 
 
In foco.
 
Mata fechada logo após Pacaraima.
 
Estrada sem acostamento.
 
In foco
 
Fauna
 
Fauna
Os vinte primeiros quilômetros são com descidas acentuadas, depois a mesma distância marca um sobe e desce com dificuldade intermediaria e algumas comunidades indígenas ao lado da estrada. Após quarenta quilômetros o cenário muda e a floresta que apresentava-se densa começa a ceder espaço para campos mais abertos e fica cada vez mais difícil encontrar alguma casa e/ou qualquer outro ponto de apoio pelo caminho que se destaca por um longo trecho plano.
 
Descida e o longo trecho de montanha-russa à frente. 
 
Comunidade indigena. 
 
Começo do trecho plano.
Apesar do relevo favorável, a velocidade média continuava baixa porque a temperatura elevada dificultava meu deslocamento, mesmo com a melhora significativa da estrada que passou a ter menos buracos após 80 quilômetros de muitos remendos mal feitos. Era meio-dia e eu não tinha completado 100 quilômetros e por isso tinha descartado a possibilidade de chegar à Boa Vista no mesmo dia. Passei a torcer para aparecer alguma comunidade na estrada para montar acampamento no final da tarde.
 
Retas infinitas 
 
Mais um flagrante do belissimo Tuiuiú, desta vez em Roraima
 
In foco.
Enquanto degustava umas bolachas, um automóvel parou no mesmo local e aproveitei a presença do motorista para perguntar se existia algum restaurante na estrada. Para a minha surpresa, havia, mas ficava 35-40 quilômetros de onde estávamos. Não tinha opção, necessitava pedalar toda essa distância debaixo de um sol de rachar e somente com bolacha no estômago. Avante.
Não demorou muito e outro veículo parou fora da pista e o motorista veio conversar comigo. Durante o diálogo em claro e bom português o senhor repentinamente me pergunta se sou brasileiro. Parecia algo inacreditável. Antes me chamavam de gringo e agora no meu próprio país me indagam se sou brasileiro. Já não sei de mais nada. Na dúvida vou começar a responder apenas que sou um latino-americano. (Risada sacana)
Para melhor a situação, na parte da tarde o vento contra apareceu e deixou o avanço ainda mais difícil. O motorista de uma caminhonete me ofereceu carona ao me ver pedalando naquele cenário nada propicio para a prática de exercícios físicos, mas a ajuda foi recusada, era preciso seguir no pedal de qualquer forma. O pior é que raramente aparecia uma sombra para um breve descanso.
A paisagem estava completamente diferente daquela no início da manhã e a mata fechada tinha definitivamente dado lugar a uma extensa área com uma vegetação rasteira. Ao lado da estrada, muitos veículos queimados me fizeram questionar se eram consequência de acidentes ou ação de bandidos, como ocorre na Venezuela.
As horas passaram e para a minha felicidade, a quilometragem também. Às 16h30m cheguei ao local onde havia o restaurante mencionado anteriormente. Na verdade tratava-se de um pequeno povoado chamado Três Corações. Existem restaurantes e mercearias à beira da estrada, contudo, não encontrei hospedagem, mas o importante no momento era achar um estabelecimento que ainda tivesse comida. Por sorte encontrei um modesto restaurante com buffet ao preço de 10 reais, contudo, o arroz já tinha terminado, mas fiquei mesmo assim porque havia macarrão, feijão, carne, linguiça e frango, tudo à vontade. Com a falta do arroz o preço caiu para 8 reais. Toda economia é válida e bem-vinda.
A minha fome era enorme e por isso fui obrigado a repetir três vezes, não comia uma quantia dessas há exatos oito meses, então podem imaginar a cena. Saí do restaurante com a barriga muito cheia. Não voltei à estrada, achei melhor encontrar um lugar para montar acampamento, afinal, não tinha muito tempo de claridade e o cenário desértico continuaria até Boa Vista.
De longe, mas ainda no povoado, avistei um galpão onde eu poderia montar minha barraca se tivesse a autorização do proprietário. O local ficava ao lado do restaurante e lanchonete Monte Sinai cujo dono era o responsável pelo espaço desejado para acampar. Conversei com ele sobre a viagem e que precisava de um lugar somente para passar a noite e prontamente meu pedido foi aceito e a permissão concedida. Maravilha!
Antes de montar acampamento fiquei sentado muito tempo do lado de fora porque não aguentava fazer nada por causa da barriga cheia. Pensei que passaria mal, mas com o tempo a digestão foi realizada e no final da noite eu já estava com fome de novo. Não vou nem comentar nada. (Risada sacana). Sei que antes de dormir ainda assisti um pouco de televisão no restaurante e também conversei sobre a região com o pessoal. Achei o povo bastante hospitaleiro e educado por essas bandas. A primeira impressão foi muito boa.
Dia finalizado com 118,30 km em 7h45m e velocidade média de 15,18 km/h.
18/03/2013 - 253° dia - Três Corações a Boa Vista
Finalmente na capital de Roraima, Boa Vista.
A noite foi bastante quente na barraca e a transpiração foi inevitável. O importante é que consegui descansar o suficiente para encarar a parte final até Boa Vista, onde, apesar de ter conhecidos, ainda não tinha idéia de onde ficar pela falta de comunicação. Mas comecei o dia com pensamento positivo de que tudo sairia bem.
O pedal teve início por volta das 7 horas da manhã e sem muita novidade em relação ao dia anterior. Quatro quilômetros após Três Corações apareceu o único posto de gasolina da região e que também pode servir de acampamento. Um restaurante no local pode matar a fome de quem estiver pedalando pela região.
 
Restaurante e lanchonete Monte Sinal. Ao lado esquerdo o local onde montei acampamento. 
O trajeto plano continuou desértico e a primeira casa à beira da rodovia apareceu com 47 quilômetros e na verdade tratava-se do Bar e Mercearia Lima onde fui muito bem atendido e abasteci minhas garrafas com água gelada que neste momento era mais do que bem-vinda em razão da temperatura alta.
 
Vegetação rasteira e seca. 
 
Em Boa Vista mesmo faltando quase 80 quilômetros para chegar ao perimetro urbano. 
 
In foco
 
Paisagem pelo caminho.
As horas passaram e não demorou muito para a fome bater forte na hora do almoço, mas eu já tinha colocado na cabeça que, por falta de opção, a refeição seria realizada somente na capital. Para acalmar as lombrigas eu degustava as bolachas em breves paradas. Foi em um destes momentos que o mesmo senhor que ontem me ofereceu carona, passou e retornou para saber se estava tudo bem. Ele me informou que tinha um restaurante que não estava longe. Fiquei animado com a notícia e continuei em frente.
Na estrada, antes do restaurante, fui novamente parado, desta vez por um motociclista que apareceu repentinamente e me fez uma pergunta inusitada. Questionou se eu já tinha almoçado e com a minha resposta negativa, voltou a indagar se eu queria uma marmita. Não pensei duas vezes em aceita-la. Segundo ele, poderia muito bem almoçar na faculdade e me ceder sua refeição que ainda estava quente. Peguei a minha panela que rapidamente ficou cheia de arroz, feijão e carne cozida. Fiquei extremamente agradecido e mencionei que na primeira sombra pararia para almoçar.
A sombra demorou a aparecer, mas para a minha surpresa, casas surgiram à beira da estrada quando o velocímetro chegou à 67 quilômetros. Fui solicitar o espaço na área de uma das residências somente para degustar a refeição recebida. O proprietário não viu problemas e permitiu meu almoço. Percebi pela fisionomia que o dono não era da região e ao questionar sua naturalidade me respondeu que era do Rio Grande do Sul.
Ney vive com sua mulher a mais de oito anos em Roraima. Atualmente é apicultor e a esposa trabalha como professora na rede pública de ensino da capital. Conversamos bastante e meu almoço demorou mais do que o esperado, mas são encontros como este que deixa a viagem ainda mais interessante. Fiquei sabendo que muitos gaúchos vieram para a região com a pretensão de plantar soja, mas o solo não favoreceu um resultado imediato e muitos voltaram para o sul. Ainda assim, em Boa Vista, por exemplo, existe muita gente com formação superior de outros estados que buscam melhores salário aqui no norte. 
Sobre os carros queimados às margens da estrada, Ney explicou que são resultados de acidentes e que muitos ficaram incendiados em razão do contrabando de combustível do país vizinho. Atualmente a fiscalização é mais rigorosa, todavia, até pouco tempo, muitos veículos passavam carregados de gasolina oriunda da Venezuela e geralmente estavam envolvidos nos acidentes.
Antes de voltar à estrada ainda ganhei uma garrada com meio litro de mel. Uma energia a mais para pedalar. Da casa do Ney em diante outras propriedades rurais apareceram pelo caminho que passou a ser menos deserto na medida em que a capital ficava mais próxima.
Com 82 quilômetros pedalados encontrei um simpático casal colombiano que viaja em uma motocicleta pela América do Sul. Voltei a falar espanhol e vi o quanto foi importante aprender o idioma. Trocamos telefones e endereços eletrônicos e não hesitei em oferecer minha casa em Foz do Iguaçu para hospeda-los quando passarem pela Terra das Cataratas. Gentileza gera gentileza.
 
Mauricio e Kata 
 
Confira: http://www.lavidaenmoto.org
  
Registro garantido.
De Três Corações à Boa Vista são 100 quilômetros e quando me restava somente mais 10 para chegar na capital eu liguei para uma amiga em Manaus para saber se ela havia conseguido contatos que poderiam me receber em Boa Vista, no entanto, a resposta não foi conforme eu esperava, mas ainda assim agradeci pela atenção. Fiz outra ligação, desta vez, para uma amiga no Paraná porque seu irmão mora na capital roraimense, contudo, o telefone não foi atendido. E agora, José?
Resolvi chamar pelo amigo cicloturista Kayo Soares que atualmente mora em Manaus, mas a família vive em Boa Vista. Eu tinha mandado um e-mail há algum tempo informando sobre a minha passagem pelo norte do país, contudo, a comunicação foi comprometida e acabei perdendo contato e os números de telefone que eu tinha já não funcionavam mais, contudo, ontem, quando parei no restaurante Monte Sinai, um motorista estacionou seu veículo com uma MTB no suporte e me perguntou se eu conhecia o Kayo Soares. Fiquei surpreso com a pergunta e achei a “coincidência” incrível e para a minha felicidade ele tinha recém anotado o número novo do celular do amigo cicloturista. E foi por esse telefone que eu consegui chama-lo antes de chegar à Boa Vista.
O Kayo não mediu esforços para me ajudar e logo passou o endereço e as referências para encontrar a casa de seu pai que concordaria em me receber. Fiquei muito feliz com a notícia porque eu precisava realmente descansar por alguns dias e nada melhor do que na casa da família de um amigo cicloturista. Desta maneira continuei em frente.
Uma placa desejava boas vindas à capital exatamente quando eu completava 100 quilômetros pedalados. Mas eu precisei avançar muito mais para chegar a uma área mais movimentada da cidade onde perguntava frequentemente sobre a melhor maneira de chegar ao local desejado. Pedalei por uma boa parte de Boa Vista no horário de pico, afinal, já era quase 18 horas. Mas para quem pedalou no trânsito infernal de Caracas, aquele movimento era relativamente tranquilo. Precisava apenas continuar com atenção.
 
Chegada à Boa Vista 
Boa Vista é a única capital brasileira ao norte da Linha do Equador e com uma população de quase 300 mil habitantes. Particularmente achei uma cidade normal e sem maiores problemas no deslocamento com a bicicleta, inclusive, presenciei vários ciclistas. Talvez a primeira impressão não tenha sido melhor em razão da pavimentação que definitivamente não está em boas condições. Obras deixam a situação ainda mais delicada já que a poeira passa a tomar conta das ruas e avenidas.
Pouco depois das 18 horas estava na referência passada pelo Kayo que ao ficar sabendo da minha chegada ligou ao seu pai Aluizio que minutos depois apareceu para me acompanhar até a sua casa onde fui muito bem recebido por toda a família.
Dia finalizado com 113,33 km em 8h27m e velocidade média de 13,38 km/h.
19/03/2013 - 254° dia - Boa Vista (Folga)
Nada melhor do que ser bem recebido por uma família e sentir-se em casa. A noite foi mais do que tranquila e confortável. Foi possível descansar bastante a parte física que necessitava de repouso, afinal, tive apenas uma folga no trecho nada fácil entre Caracas x Boa Vista.
Para começar bem o dia, o café da manhã tinha, entre outras coisas, cuscuz, que eu tive a oportunidade de degustar pela primeira vez. Foi mais do que aprovado. Acho que vou engordar durante os próximos três dias que devo permanecer aqui na casa para atualizar o diário de bordo.
 
Café da manhã reforçado. 
 
Cuscuz
Aqui em Boa Vista ainda pretendo trocar os dois pneus “carecas” da Victoria que, no final das contas, foi mais uma vez guerreira ao conseguir chegar ao Brasil sem me deixar na mão. E olha que abusei da minha companheira ao arriscar continuar com os pneus em um estado bastante critico.
O restante do dia foi praticamente todo dedicado ao diário de bordo.
20/03/2013 - 255° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado à atualização do diário de bordo.
Hoje aproveitei para ir à bicicletaria aqui nas proximidades da casa da família e para a minha felicidade consegui encontrar o pneu Pirelli que tanto procuro desde o Equador quando precisei trocar o pneu da desta marca que havia chegado ao limite.
Aqui na excelente bicicletaria PP Peças no bairro Asa Branca em Boa Vista a surpresa foi muito além de achar a desejada marca, encontrei um modelo que não é mais fabricado pela Pirelli, trata-se do BM-90 1.9 made in Brasil e que atualmente foi substituído pelo Scorpion que vem dos países asiáticos, mas que ainda assim se mostrou com um excelente custo x beneficio já que precisei troca-lo após sete mil quilômetros.
Acontece que o BM-90 é ainda melhor que seu sucessor, principalmente no que diz respeito a durabilidade. Lembro que na Magrela Guerreira (minha outra bicicleta) o pneu dianteiro chegou a rodar 10 mil quilômetros, ou seja, agora estou tranquilo para retornar à Foz do Iguaçu sem precisar me preocupar mais com essa peça. Cada pneu, com desconto, custou 25 reais. Também aproveitei e comprei mais remendos já que os meus haviam terminado.
 
Pneu traseiro Maxxis Ignitor 1.95; rodou 3.791 km desde Bogotá/Colômbia. Detalhe; estava meia-vida quando ganhei ele. 

Pneu dianteiro Hutchinson Cameleon 1.95 rodou quase 7 mil km desde Cuenca no Equador.
 
Novo Pirelli BM-90 1.9 
Aqui na casa eu continuo meu período de engorda, cada dia eu provo uma comida diferente; Vatapá; um delicioso Dourado (peixe) com um preparo similar ao Escabeche; Baião-de-dois; Carne-de-sol e; Paçoca (carne-de-sol com farinha). Todos os pratos foram degustados e aprovados. Parabéns à Andréa que deliciosamente cozinhou essa culinária local.

Um dos melhores peixes que degustei na vida.
21/03/2013 - 256° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado exclusivamente à atualização do diário de bordo.
22/03/2013 - 257° dia - Boa Vista (Folga)
Dia dedicado à atualização do diário de bordo. 

Hoje no final da tarde fui conhecer, na companhia da família Leão, a famosa Orla Taumanan que fica ao lado do também conhecido Rio Branco. O lugar é bem agradável, apesar de estar um pouco abandonado, mas ainda assim é um excelente passeio pela região central, onde também está a interessante Igreja Matriz. Pelas ruas e avenidas extensas pude ter um olhar diferente da cidade e muito mais interessante do que aquele da minha chegada à capital.

 Orla Taumanan
  Orla Taumanan

 Rio Branco

Registro garantido!

Ponte do Macuxis ao fundo. Caminho para a Guiana.
  Orla Taumanan

 Monumento em homenagem aos pioneiros de Boa Vista.

Monumento em homenagem aos pioneiros de Boa Vista.

 In foco.
 In foco.

 Com a Ana Paula e Juliana na frente da Igreja Matriz.

Igreja Matriz
Amanhã volto à estrada em direção à Manaus onde devo chegar em aproximadamente 7-8 dias. Estou bastante animado para conhecer a Amazônia e sem dúvida reservarei alguns dias para visitar a capital amazonense e os povos ribeirinhos da região. Para a minha felicidade tenho muitos amigos na cidade que já me convidaram a permanecer em suas casas. Desde já meu sincero agradecimento pela hospitalidade, camaradas.
No mais, peço desculpas pela demora em atualizar o site, esses últimos dias foram extremamente complicados para escrever e realizar novas postagens. Espero que compreendam e aproveitem a leitura desta nova atualização e não hesitem em deixar seus comentários.
Grande abraço.
"Hasta la Victoria Siempre"